Neste texto, discutirei sobre a necessidade que temos em ser suficientes quando olhamos a nossa realidade por uma ótica imposta pelo outro. Hoje em dia, muitos são os conselhos e estudiosos do assunto que nos permeam, indicando caminhos e nos dando dicas. E, diante de tanta informação, a gente não consegue ser suficiente? Ou mesmo se sentir desta forma? Então, por conta deste sentimento, relativizarei aqui sobre esse olhar que a familia expatriada possa ter.
Uma visão simplificada
O mais importante é entender que, o que é facil para um, poderá não ser tão fácil para o outro. Essa máxima é verdadeira em 100% das vezes em que ela é relativizada. Em uma vida corrida, com milhares de compromissos e exigências a serem cumpridas, além de adaptações a serem encaradas, por muitas vezes, não conseguimos dar conta. E, o não dar conta nos frusta.
Mas através de uma visão simplificada da situação, podemos respirar fundo e entender que é normal termos este sentimento, se continuarmos a trilhar um caminho de exigências. O mais importante é o nosso papel como formadores. É estarmos bem com as nossas expectativas para podermos caminhar em paz e quem sabe alcançarmos a linha de chegada que tanto desejamos.
A mãe suficientemente boa
O pediatra e psquiatra Donald Winnicot é o autor desta teoria (leia aqui). A teoria mostra que a mãe que tenta ser perfeita sofre por causa da expectativa gerada. E é pensando neste conceito que discuto aqui, sobre o modelo de resultado perfeito que segue todas as receitas “eficazes” que muitas vezes desejamos alcançar.
Já é ponto pacífico sabermos que por trás de todo resultado, houve um caminho de esforço e dedicação. E é sobre trilhar esse caminho de forma leve e amorosa que falo aqui. Quando observamos resultados dos demais, muitas vezes nos esquecemos de avaliar o percurso para se ter chegado a tal lugar. E este percurso não foi tão simples. Cada caso é um caso e cada realidade, uma realidade. Existe uma grande beleza na diversidade. Todo caminho trilhado requer tempo. Todo tempo requer paciência e paciência gera perseverança e resultado.
Sobre gerar resultados
Essa frase me assusta. Vivemos em uma época em que gerar resultados importa demais, deixando de lado o processo. E a forma de como alcançar esses resultados? Infelizmente, desistir tem sido mais fácil do que persistir. Como podemos lidar com resultados que não são aqueles que estão categorizados por todos que comungam de muitos conselhos e diretrizes ou assinam importantes estudos?
O primeiro ponto observado, pode ser: qual é o nosso olhar em relação a nossa realidade e a tudo que nos permea? Somente depois desta resposta sincera, acho que podemos ressignificar o que é a tal frase – gerar resultados.
O segundo ponto importante, para mim, é: qual é a realidade que estou inserida? E quais são as minhas prioridades? Enxergando com clareza a nossa realidade, as expectivas que poderão ser construídas serão mais reais e menos comparativas.
Não deu certo
Eu fiz de tudo, me esforçei ao máximo e não consegui. Por onde caminhar, estamos cansados! E aí? A resposta é que está tudo bem! Tudo bem se vocês se empenharam e os resultados não foram os esperados, tudo bem se vocês leem relatos de sucesso e ainda não estão em cima do pódium, tudo bem se as palavras desenvolvidas ainda são poucas ou nenhuma. Tudo bem! Agora o momento é para respirar e se acolher.
Leia mais sobre isso: Falhei, e agora?
Muitas vezes me pego com o esse sentimento. Preciso resolver algo com as crianças. Alguns conflitos nas suas relações com os colegas. Logo entendo que como mãe, preciso de resultados imediatos. Coloco minhas expectativas no nível máximo para ser suficiente e dar conta da situação. Como não intervir de forma correta e eficaz? E analiso. Eu me deparo com as minhas limitações e com as limitações das situações, do entorno.
Dessa forma, não entro mais em um ciclo de cobranças e frustações. Aos poucos, com freio de mão puxado, retomo a consciência e revejo meus objetivos. Assim, entendo qual é o centro de tudo aquilo que é o motivo real da minha necessidade em ser suficiente. Com isso eu me reorganizo no caminho, observando que ser suficiente é saber entender e enfrentar as diferenças e os conflitos existentes na expatriação.
Diante de tudo isso, acredito que a nossa necessidade em ser suficiente precisa ter contexto, significado e real importância na construção do nosso caminhar. A nossa responsabilidade não é anulada pela necessidade de nos sentirmos aprovados. No entando, ela deve ser encarada como a ferramenta que poderá nos capacitar para administrarmos empasses, resolvermos questões e apararmos arestas. Nosso olhar precisa estar focado no real papel que temos como família.