O uso de medicamentos na gravidez e amamentação – Parte I
Estou grávida e preciso me curar. Devo aguentar a dor e cerrar os dentes? Estou amamentando e tenho que me tratar. É melhor parar a lactação? O que eu posso fazer? Quantas perguntas enchem a cabeça de uma mãe que precisa tomar uma decisão nesse sentido? Há um grande preconceito sobre o uso de medicamentos na gravidez e amamentação: acredita-se que todas as terapias podem causar danos à criança e que é melhor evitá-las. Mas não é bem assim.
No binômio fármacos x bebês há algumas facetas. De um lado, ocorre que a progenitora evidentemente tem um problema de saúde e resolvê-lo é importantíssimo – tanto para ela quanto para o neném. Por outro, é imprescindível salvaguardar o feto e o recém-nascido, visto que os remédios podem ser transportados através do líquido amniótico ou pelo leito materno, arriscando-se reações adversas. Ao mesmo tempo, porém, é inevitável levar em conta o fato que a eventual contraindicação a amamentar implicaria a perda de grandes benefícios do aleitamento materno.
Diante do temor que o medicamento faça mal à saúde de seus filhos, algumas mães deixam de se tratar provocando danos à própria saúde, ou excluem precipitadamente a possibilidade de amamentar acarretando perdas ao crescimento saudável de seu filho.
“Mais de 66% das mulheres italianas frequentemente escolhem interromper o aleitamento, privando o bebê da fonte de nutrição mais vantajosa que poderia ter para crescer saudável e forte.”
Tratar-se durante a gestação e a lactação é possível. De fato, segundo a Agência Italiana De Fármacos (Agenzia Italiana Del Farmaco – AIFA) se deve, porque não o fazer pode ser ainda mais perigoso para a saúde da genitora e seu bebê.
“A saúde da mãe que amamenta é essencial para a criança”, salienta o Ministério da Saúde italiano, que afirma: “em caso de doença, pode ser avaliada a conveniência de começar um terapia farmacêutica, ou de não a interromper, caso já esteja em curso”.
Segundo uma estimava do ministério, entre 65% e 95% das mulheres que aleitam tomam um ou mais remédio (anti-inflamatórios, antibióticos, medicamentos para distúrbios gastrointestinais, ansiolíticos, antidepressivos, para citar alguns), e 91% da medicação que é receitada é compatível com a gravidez e com o aleitamento. Todavia, ainda existe muita confusão sobre o assunto, que normalmente abre margem para “comportamentos irracionais, que vão do alarmismo excessivo e injustificado à subestimação dos riscos reais”, relata Maria Luisa Farina, responsável pelo Departamento de Intoxicação Clínica e do Centro de Anti-Envenenamento do Hospital Papa Giovanni XXIII, de Bergamo.
Na maioria dos casos, os remédios podem ser consumidos sem problemas. Na hipótese de riscos reais, de acordo com o especialista, é possível substituir o medicamento por outro que possua a mesma indicação terapêutica e menor risco, e planejar um maior monitoramento da gestante e/ou do recém-nascido.
É possível que a progenitora tome medicamentos até mesmo nas situações de doenças crônicas como diabetes, lúpus, epilepsia, problemas de tireoide, para citar alguns exemplos. Outro fato relevante é que a amamentação pode continuar durante a maioria dos testes diagnósticos (raio-X, TACs, etc.). Até mesmo para a mamografia não existe nenhuma contraindicação durante o aleitamento, por ser um exame diagnóstico que usa o raio-X a um nível muito baixo. Invariavelmente se faz necessário informar ao médico e a pessoa que efetuará o exame que se está grávida ou amamentando.
Além do mais, há um posicionamento sobre o uso de medicamentos na gravidez da Agência Italiana De Fármacos que diz que, durante os nove meses de gestação, os remédios necessários e prescritos pelos médicos podem ser usados tranquilamente. E que somente em casos muito raros é preciso parar de amamentar quando se deve seguir um tratamento terapêutico.
Isso demonstra que existem muitíssimos remédios compatíveis com a gestação e o amamentação. O mandatório, obviamente, é não se automedicar, mesmo com aqueles que podem ser comprados sem receita médica ou fitoterápicos, bem como deve-se evitar a utilização de terapias inúteis, como o antitérmico para uma febre de 37,5°C.
A amamentação, ao contrário da gravidez, concede uma liberdade maior com relação à alimentação da mãe e ao estilo de vida em geral. Igualmente para os medicamentos há mais liberdade, porque, mesmo sendo verdade que a maior parte dos que estão no comércio passam através do leite materno, fato é que se tomado em doses terapêuticas, não causam algum efeito colateral na produção do leite ou na saúde do neném.
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Por falar nisso, são muitos os fatores que interferem na infiltração ou não do medicamento no leite materno. A saber alguns: a dose tomada; a forma de ingestão; a capacidade do fármaco entrar no tecido adiposo (lipofília – um medicamento é mais lipofílico consegue penetrar mais facilmente no leite); a meia-vida da droga (o quanto ela resiste no sangue da mãe); a relação entre o medicamento no sangue e aquele no leite materno; a capacidade de absorção no intestino da mãe e da criança (biodisponibilidade); o estado de saúde e a idade do bebê (em caso de prematuros é mais complicada a terapia, porque o fígado e o rim do bebê são imaturos em relação a um que já completou as 40 semanas, representando um maior risco de alto nível hemático da droga); dias de lactação (nos primeiros dias, quando se tem apenas o colostro, o leite que o recém-nascido toma é em quantidade pequena, consequentemente, será baixo o percentual de medicamento presente).
Em síntese, muitos fármacos não devem ser tomados, mas tantos são assegurados, dado que não abarcam perigos. Outros, ainda que envolvam riscos, podem ter efeitos menores do que os provocados pelo ato de não usar nada para combater a doença em questão. Trata-se de achar a solução ideal para o problema, considerando todas as suas interfaces: o tipo de remédio; a posologia (isto é, a dosagem e os seus intervalos); o modo de administração (uma pomada ou um medicamento inalatório se difundem de maneira ínfima em comparação a um medicamento oral); a biodisponibilidade do medicamento (a quantidade que pode ser absorvida pelas vias gastrointestinais); a quantidade de leite que a criancinha ingere diariamente.
Por fim mamães, não deixem para trás a sua saúde. O uso de medicamentos na gravidez e amamentação pode e deve ser feito se você precisa se curar de uma enfermidade. Não pratique a automedicação. Não suspenda ou a interrompa um tratamento por conta própria, até mesmo daqueles remédios naturais e aparentemente inócuos. Converse sempre com o teu médico.
Abbi cura di te, se cuide!
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*Citações e fontes: Farmaci in gravidanza e allattamento | Ecco un’utilissima novità sull’uso dei farmaci in allattamento! | Farmaci e gravidanza| Farmaci in gravidanza e allattamento. Compatibili nel 91% dei casi | Centro antiveleni e tossicologia | Farmaci e allattamento al seno: la guida del Ministero della salute | Farmaci in allattamento: sicuri, vietati e consigli d’uso | Farmaci in gravidanza: quali ammessi e quali vietati | Position statement sull’uso di farmaci da parte della donna che allatta al seno