O que não falam sobre a amamentação
Quando descobri que estava grávida eu me preocupei em relação a tudo, menos sobre a amamentação. Eu não sei vocês, mas eu sempre achei que era algo tão natural que não teria muitas dificuldades, afinal o bebê deve saber o que fazer, né?! A resposta é: não!
Durante minha gestação fiz todo meu dever de casa como futura mãe: li sobre as opções de parto, sobre o que poderia fazer para ajudar o desenvolvimento do bebê ainda dentro da barriga, tomei todas as vitaminas , fiz a dieta mais saudável possível, preparei o enxoval, fiz todo o beabá da gestação. Entretanto, nunca passou pela minha cabeça que eu poderia ter dificuldades em amamentar. Não sei porque, mas ninguém prepara muito a mãe sobre isso.
Nascimento do bebê e a hora do vamos ver
Assim que meu filho nasceu (no Brasil) já colocaram ele para dar a primeira mamada. Até então, tudo certo. Eu tinha bastante leite, e as enfermeiras falaram que eu não teria grandes problemas com a amamentação. Ainda no hospital, elas também falaram que meu bebê era muito dorminhoco (mãos para os céus!), que então eu teria que acordá-lo para mamar. Elas me viram amamentando e, aparentemente, apesar da dor, estava tudo certo. Fomos para casa.
Continuei amamentando meu filho achando que estava tudo certo, e que era normal sentir tamanha dor. No check-up com o primeiro pediatra que fomos, aparentemente, o bebê estava saudável. Mas depois de mais de duas semanas, notamos que o bebê não estava ganhando o peso esperado, apesar de estar mamando. E então, tudo começou a desandar…
A terrível mastite
Meus seios estavam empedrando e pareciam que nunca esvaziavam mesmo com meu filho mamando em livre demanda. Começamos a perceber que o intervalo entre as mamadas começou a diminuir, mas nada de ganhar peso. E então, veio a mastite (Meu Deus!).
Quase desisti de amamentar na noite em que minha mastite estava no ápice e a dor era insuportável. Eu estava com uma febre altíssima e meu filho chorando/berrando de fome mas não saia uma gota de leite. Eu me senti tão impotente, incapaz, frustrada, culpada e a pior mãe do mundo.
Meu marido tentou me acalmar e sugeriu que a gente desse o leite em pó. Mas eu não queria, achava que estava desistindo. Depois dele conversar e me acalmar, decidimos dar o leite. O nosso filho dormiu algumas boas horas (o que fazia um tempo que isso não acontecia).
Meu marido preocupado com minha situação, começou a pesquisar sobre como poderia me ajudar nesse processo de amamentação já que eu não queria desistir. Não naquele momento. E então ele descobriu sobre o maravilhoso trabalho dos Bancos de Leite públicos. Ele ligou e marcou uma consulta urgente.
O maravilhoso trabalho do Banco de Leite
Após ouvir todo nosso relato pesaram o nosso filho. Constataram que ele realmente não estava ganhando o peso necessário, mas estava saudável. A enfermeira me pediu para amamentar meu filho na frente dela. Após observar ela disse que a amamentação estava realmente errada.
Ela explicou que o bebê estava mamando só a primeira parte do leite que era basicamente para anticorpos e hidratação. Além disso, o bebê estava com a “pega” errada, o que estava causando dor e fissuras. Por isso também ele fazia muito esforço para mamar mas logo cansava, não conseguindo obter a parte “gorda” do leite responsável para o ganho de peso. E para completar, meu filho era dorminhoco, então ele preferia cair no sono do que continuar mamando. Fim da charada.
A solução que ela deu foi de tirar a parte “magra” do leite, que era o que meu filho estava mamando e colocar em um copinho. Em seguida, colocar meu filho para mamar porque assim ele já mamaria a parte responsável pelo ganho do peso. Mas em paralelo, ele iria mamar a primeira parte que eu tinha tirado por meio de uma “sonda” que eu colocaria externamente em sua boquinha enquanto ele mamava. Além disso, ela me mostrou como ensinar meu filho a ter a “pega” certa e me disse para nunca deixar ele ficar com a pega errada, sempre insistir em fazer o certo. E pediu para retornarmos em uma semana.
Uma semana e a transformação aconteceu
Em uma semana, meu filho ganhou o peso esperado, eu já não sentia mais dor em amamentar e meu filho estava mamando cada vez mais certinho. Depois de 14 dias, a enfermeira nos liberou da “sondinha” e amamentar se tornou um momento mais prazeroso.
Eu ainda não tenho palavras para agradecer todo trabalho e atenção que as enfermeiras do Banco de Leite nos deram e o quanto elas nos ajudaram nessa fase que foi tão difícil.
Hoje em dia, sempre conto às minhas amigas grávidas para ficarem alertas sobre a amamentação – no caso de desejarem amamentar. Explico sobre os possíveis problemas e a solução. Gosto de ser realista para não serem pegas de surpresa como eu fui e assim ter um momento mais prazeroso. E, caso a amamentação não for do jeito que imaginaram, que elas não se sintam culpadas e que podem sempre buscar por ajuda.
Em Brasília, tem o projeto “Amamenta Brasília” para doação de leite materno para ajudar as mamães que não podem amamentar. Dessa forma, seus bebês ainda podem se beneficiar do milagroso leite materno, além de ajudar os bebês prematuros.
Amamentação na Bélgica
Conversei sobre isso com minha amiga belga. Ela disse que aqui os médicos incentivam bastante a amamentação. Mas as mães não costumam amamentar mais do que um ano. Os dois principais motivos são: por aqui, a pressão em amamentar não é tão forte quanto no Brasil e a licença-maternidade daqui é extremamente curta – apenas 3 meses. Vale explicar que aqui na Bélgica há ainda a opção da licença parental de 4 meses, por meio da qual a mãe e o pai podem dividir esse tempo da forma que lhes convêm até a criança completar 12 anos. Muitos casais preferem tirar ao longo dos anos do que complementar os 3 meses de licença maternidade, principalmente, por motivos profissionais. Além do mais, amamentar a criança muito além de 1 ano não é muito bem visto por aqui. Mais sobre “ser mãe na Bélgica” nesse texto aqui!
O interessante é que aqui em Bruxelas, após o parto, vem uma “mulher sábia” (equivalente a uma enfermeira obstétrica) na sua casa para acompanhar o desenvolvimento do bebê e se está tudo certo com a amamentação, dando dicas e ajudando se for necessário.
Alguns sinais de alerta
Portanto mães, fiquem alertas e busquem ajuda se:
- O bebê não ganha peso no prazo esperado;
- O bebê faz barulho de “estalinho” enquanto mama;
- O ato de amamentar está dolorido, sai sangue, etc.
Para quem quer saber mais sobre amamentação aqui em Bruxelas (em francês): Bancos de leite em Bruxelas e na região de Valônia e Infor allaitement
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Leia também Amamentação e veganismo: o APLV nas nossas vidas
4 Comentários
Super me identifiquei, pois achava que seria tudo automatico. Engano meu!
Tentei buscar ajuda, mas nao tive a mesma sorte e isso me causou um estresse tao forte que piorou meu psicologico.
Precisamos divulgar mesmo esses centros de apoio, pois o que nos falta realmente e falta da informacao.
Olá Patrícia! Poxa, sinto muito que não tenha conseguido ajuda em um momento tão delicado e frágil na maternidade. Acho que falta mais orientação nos hospitais. Te falam que amamentar é sempre a melhor opção mas não te falam onde, quando e como deve procurar ajuda caso algo não vá bem no processo.
Parabéns Loyane, pela persistência! Só mãe é capaz de tanta obstinação!
Obrigada, Zandra! Realmente, como mães, nos descobrimos mais fortes e determinadas do que jamais imaginávamos, certo?! Eu descobri uma força de superação em mim que não conhecia.