Leite materno, a melhor fórmula para nutrir o teu bebê.
Acreditamos que todas nós, mulheres, até mesmo antes de engravidarmos e nos tornarmos mães, nos confrontamos com o tema amamentação. Afinal, faz parte da natureza feminina gestar, produzir leite e amamentar a cria. As mães, obviamente, preocupam-se com a saúde de seus filhos. Mas tem algo que transforma a amamentação no seio em um problema maior do que ele realmente deveria ser. Pois, por também sermos seres culturais, somos alvos de pressões, preconceitos e costumes da sociedade em que vivemos.
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Muito antigamente, antes do surgimento do leite artificial, as mulheres cresciam vendo as mães do seu entorno amamentando. Os recém-nascidos, as mamadas, os cuidados não eram coisas novas e desconhecidas. Elas não precisavam de livros ou blogs para descobrir como amamentar, pois o conhecimento e a competência se passavam cotidianamente de geração em geração.
No entanto, hoje, grande parte de nós somos filhas da mamadeira. Muitas nunca nem mesmo vimos um bebê mamando no peito e, assim, nos sentimos pressionadas a seguir o exemplo das nossas matriarcas – que igualmente foram criadas com alimentação artificial, tabelas e horários.
Claro que elas foram (assim com nós somos ou seremos) tão boas mães quanto podiam, de acordo com as informações que tinham na época. (Aqui é possível ler mais sobre os “mitos” da amamentação que foram surgindo com o tempo). O que queremos mostrar é que com isso se perdeu – nós perdemos – o conhecimento daquilo que é o natural da amamentação, isto é, o fato de que toda mulher (exceto casos extremamente raros) pode amamentar e que toda mãe tem o leite perfeito, em quantidade adequada, para o seu bebê.
O que nós autoras deste texto temos em comum – além de sermos defensoras do leite materno – é que as duas amamentam no peito os seus bebês além dos seis meses exclusivos (e da média italiana), e igualmente nos informamos bastante sobre este tema durante a gravidez. O que não é tão comum, visto que a maioria das gestantes – por acreditarem que dar “mamá” seja algo que simplesmente acontece (ou não). Elas se preparam para o parto, mas não para o ato de amamentar. Porém, apesar de parecer simples e automático, dar o peito envolve, na verdade, muito mais dedicação, acesso a informações e apoio do que se possa imaginar. Tanto que, para nós, essa frase é o melhor resumo do que se vive atualmente: “se preparar o seio para amamentar não é absolutamente necessário, certamente pode ser muito útil preparar a mãe”.
“Quase todas as mulheres, incluindo muitas que tentaram amamentar, mas desistiram devido a dores no peito ou à tirania dos horários do bebê, seriam capazes de fazê-lo se tivessem autoconfiança suficiente, apoio do parceiro e de outras pessoas (especialmente da mãe), e ajuda profissional sensível e especializada disponível.” [Penelope Leach, em seu livro “Your baby and child”]
Somos defensoras porque da nossa experiência vimos que é possível e constatamos que alimentar no peito é, antes de tudo, um ato de amor. Uma experiência maravilhosa, gratificante e profunda. É um aspecto importante da maternidade, o complemento ideal da gravidez e do parto. No nosso seio os nossos bebês encontram tudo o que precisam em termos de afeto, contato, segurança. E depois, naturalmente, porque existem as vantagens para a saúde – tanto do bebê, quanto da mãe. Por exemplo, amamentar protege a progenitora da depressão e o recém-nascido de vírus e bactérias, pois o leite materno tem todos os anticorpos que ele precisa nos seus primeiros meses de vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) publicaram, em 2003, a “Estratégia Global para a Alimentação de Lactentes e Crianças de Primeira Infancia” com o intuito de promover uma melhoria da saúde e do crescimento e desenvolvimento ideal de lactentes e crianças, e com isso a prevenção/diminuição de mortes nesta faixa etária. Neste documento se recomenda o aleitamento materno exclusivo (AME) pelos primeiros 6 meses de vida do recém-nascido, e a continuação da amamentação por dois anos ou mais, sendo que até 1 ano o leite ainda é a principal fonte de nutrientes do bebê.
Apesar de o Brasil ser considerado referência mundial em aleitamento materno devido às políticas de incentivo à amamentação no país, a média nacional de AME é de apenas 54 dias e a de amamentação é de 341 dias. Na Itália, a situação melhora no que se refere ao AME, a média é de 129 dias, entretanto, a duração média da amamentação é de apenas 249 dias.
Por que as recomendações da OMS são tão difíceis de seguir?
Sem dúvida, a falta de conhecimento e encorajamento, tanto por parte da família quanto por políticas de incentivo do governo (tais como uma licença maternidade de ao menos seis meses, por exemplo) são os grandes responsáveis por essa disparidade. Sem contar que ainda existem, infelizmente, muitos profissionais de saúde, entre eles pediatras, que não estão atualizados com os últimos estudos e continuam a recomendar o uso inadvertido de fórmulas (mesmo quando necessária é comprovado que o seu consumo em mamadeira pode levar ao desmame prematuro) e a introdução alimentar precoce aos 4 meses. Ou pior, que insensatamente disseminam mitos como o de que depois de um ano o leite materno não possui mais nutrientes.
“É importante notar que apenas 1% de todas as mães é biologicamente incapaz de produzir leite suficiente para seus recém-nascidos.” [M. Sara Rosenthal, autora de “The pregnancy soucerbook” ]
Além disso, lamentavelmente, muitas pessoas olham com estranhamento ao ver uma mãe oferecer seu seio em público para o seu neném (quanto maior a criança, maior o desconforto gerado), como se este lindo ato de amor fosse algo a ser abominado, levando muitas mulheres a se sentirem constrangidas ao amamentar quando e onde bem entenderem.
Tendo em vista esse cenário, é muito importante buscar sempre se informar, se juntar a outras mulheres e com isso se empoderar como mãe e mulher para poder ir contra uma cultura de quase desnaturalização do ato de amamentar.
Existem, na Itália, inúmeras associações e grupos de ajuda para mulheres que querem amamentar. Uma dessas associações é a La Leche League (Lega per l’allatamento materno – Liga para a amamentação materna) que oferece noções e suporte através de atendimentos telefônicos e encontros mensais, gratuitos. Para saber se tem um grupo de auto-ajuda na sua cidade você pode se informar nos consultórios médicos, nas maternidades dos hospitais ou ainda no Comune e também clicando aqui. Além disso, há o site MAMI (Movimento Allatamento Materno Italiano) onde, da mesma forma, é possível buscar por informações e grupos de ajuda na sua região.
Quanto ao direito de amamentar, aqui na Itália tem uma campanha que se chama “Ovunque lo desideri”, com o objetivo de garantir o direito de qualquer criança ser amamentada onde e quando for necessário. Para saber mais e assinar o abaixo-assinado é só clicar aqui.
Os problemas encontrados pelas mães estão tão difundidos quanto são comuns. Assusta saber que – com todos benefícios proporcionados pela amamentação – tantas genitoras ainda usem a mamadeira com leite artificial para alimentar seus rebentos. Claro que você tem todo direito de escolher e planejar dar mamadeira para seu filho, mas nós autoras gostaríamos de convidá-la a pesquisar o máximo que puder sobre as vantagens do aleitamento materno e a influência da cultura que nos rodeia (e do mercado de leite e bicos artificiais) antes de decidir. Defendemos que com as informações corretas e o suporte necessário qualquer mulher do mundo pode amamentar seu bebê com o próprio peito – se assim o deseja – ao mesmo tempo em que acreditamos que refletir sobre o que hoje é tido como “normalizado” é a melhor maneira de fazer uma escolha consciente.
Este texto foi escrito originalmente em agosto de 2018, em conjunto pelas colunistas Amanda Nogueira Mochi e Farah Serra, mães que amamentam no peito os seus bebês que, na época, tinham 10 meses e 20 meses, respectivamente. Hoje Amanda segue amamentando – há 22 meses.
Fontes de inspiração e de pesquisa:
https://www.unicef.org/breastfeeding/
http://www.ibfan.org.br/site/ | Petizione · Governo Italiano: Allattamento è…ovunque lo desideri …
http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com/
Livros:
Cozza, G. Bebè a costo zero. Torino: Il leone verde, 2016.
González, C. Meu filho não come!. São Paulo: Editora Timo, 2012.
González, C. Manual prático de aleitamento materno. 2a. edição. São Paulo: Editora Timo, 2017.
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