Introdução alimentar na Itália
O momento de introduzir alimentos para o bebê é, sem dúvida, um período de ansiedade e até incertezas para os pais. Aqui em casa, pelo menos, estávamos bastante inseguros quanto a algumas coisas, como quando exatamente inicia e com o quê (frutas ou legumes?). O fato de em casa sermos de duas culturas diferentes (Brasil e Itália) e de eu ter trabalhado com bebês em um outro país (Alemanha) só veio a atrapalhar, pois existem muitas diferenças que me deixaram ainda mais confusa sobre o que fazer.
Por sorte, nos dias de hoje temos muito acesso a informação através da internet. Isso foi com certeza o que me ajudou a comparar todo o conhecimento que eu tinha e entrar em contato com as referências mais atualizadas para tomar a decisão que mais se encaixava com a nossa realidade familiar.
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Quando a minha filha estava com cerca de 5 meses foi que a dúvida maior bateu. Neste momento, eu já sabia da importância da amamentação exclusiva até os 6 meses (recomendação oficial de órgãos como Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria e Ministério da Saúde, entre outros), coisa que na Alemanha eu sabia que não era seguida. Foi então que, conversando com amigas que têm filhos e já haviam passado pela introdução de alimentos, fui me inteirando de tantas coisas que não tinha ideia e que quero dividir um pouco neste texto.
Por que esperar os 6 meses?
Uma das coisas que mais me intrigava era que na Alemanha, e ainda muito difundido também na Itália (e no Brasil), a introdução alimentar (IA) se dá aos 4 meses. Segundo um documento do Ministero della Salute (Ministério da Saúde italiano) sobre a alimentação na primeira infância, publicado em julho de 2016, a recomendação é que, ordinariamente, se espere os 6 meses, abrindo ressalvas para uma avaliação individual do pediatra.
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) e a Academia Americana de Pediatria também colocam a importância do aleitamento exclusivo até os seis meses, mas dizem que em casos em que isso não seja possível, não se deve introduzir alimentos antes das 17a semana, ou seja, antes dos 4,5 meses.
Ou seja, os grandes órgãos de saúde e sociedades médicas mundiais apontam que o leite materno supre as necessidades do bebê até pelo menos o sexto mês (e deve ser ainda o principal alimento até 1 ano). A realidade é que a natureza é bastante sábia, e até mais ou menos este ponto da vida o sistema gastrointestinal do bebê não está maduro para receber outros tipos de alimentos.
Sinais de prontidão
Foi através de uma amiga que eu conheci os tais sinais de prontidão. Conversando com ela sobre a aproximação do sexto mês e a introdução alimentar, ela me questionou se a minha filha já apresentava todos os sinais que estava pronta para tal:
- sentar-se com um mínimo de apoio
- ter o reflexo de protrusão da língua bem diminuído, ou seja, não empurrar o sólido para fora da boca com a língua
- mostrar interesse na comida dos adultos
- levar objetos à boca
E, na realidade, a minha pequena, ao completar 6 meses, ainda precisava de bastante apoio para estar sentada. Insegura e com dúvidas, participei do curso sobre introdução alimentar no Il Melograno (já falei em outro texto sobre o quanto participar de cursos lá me ajudaram na adaptação aqui na Itália). Além de ter super esclarecido tantas questões abertas – até mesmo quanto aos sinais de prontidão -, me fez também entender algumas diferenças culturais entre a introdução alimentar no Brasil e na Itália.
As papinhas com creme de cereais
Uma coisa que eu só conheci trabalhando na creche na Alemanha, e depois vi muito difundido aqui na Itália, foi a farinha de cereais (arroz, semolina, milho). Basicamente, no início da IA faz-se uma papinha com caldo vegetal ou de carne e essa farinha de cereal. A ideia nunca me apeteceu e eu sempre me perguntei a razão para isso. Afinal, por que não cozinhar o próprio cereal e depois amassar para oferecê-lo?
A resposta me foi dada durante o curso que mencionei acima: ainda é bastante difundida a IA aos 4 meses, mesmo com muitos estudos já mostrando que isso não é o mais adequado (aqui fala um pouco sobre, mas basta procurar em um site de buscas os estudos acadêmicos a respeito do tema). Como já mencionei acima, o sistema digestivo do bebê nesse momento ainda não está pronto para receber sólidos. Assim, essas papas, que são de fácil digestão por serem praticamente um líquido grosso, surgiram para alimentar os bebês precocemente, quando eles na verdade só conseguiriam digerir líquidos. Pelo mesmo motivo, no Brasil era muito difundido – e ainda erroneamente é – a IA com alimentos batidos, sucos e sopas. O meu primeiro ponto então estava esclarecido: nada de papas de cereais!
Leite de vaca e laticínios
Eu já havia lido muito e sabia que a recomendação oficial no Brasil é esperar até 1 ano para oferecer leite de vaca e derivados. E sei que muitos dizem inclusive que nem é necessário (tendo-se em vista que a criança ingira outras fontes de cálcio). Mas eu moro no país do formaggio (queijo), né? E o parmesão é usado até mesmo na preparação das papinhas – inclusive aquelas prontas! Além disso, ofertar iogurte já a partir de 6 meses é praxe, já que sendo probiótico faz bem para a flora intestinal.
O uso de queijo e iogurte na dieta infantil é bastante difundido na Europa no geral, mas o leite de vaca in natura só é aconselhado também após um ano, pois até então o bebê deve ingerir leite materno ou, na ausência deste, uma fórmula infantil indicada pelo pediatra.
O grande problema do leite de vaca e derivados é que, além de ser alergênico, pode predispor à anemia, já que atrapalha na absorção de ferro dos outros alimentos. Uma nutricionista que eu sigo no Instagram (@bebedenutri) e que confio muito, pois sempre traz dados com referências, fala muito sobre isso em seus posts. Ela também tem um site e está no facebook.
Glúten, ovo, amendoim e alergênicos em geral
Bom, nem preciso dizer que na Itália o macarrão, consequentemente o glúten, entra na dieta desde sempre, né? É tipo o nosso arroz e feijão. O que aprendi nas minhas inúmeras pesquisas e no curso que participei é que desde os 6 meses o bebê pode ser exposto a esses alimentos ditos alergênicos (sempre observando possíveis reações, claro, e no nosso caso, que não tem caso de alergia na família, é ainda mais tranquilo). Até cerca de 9-10 meses existe inclusive uma janela imunológica, sendo portanto um bom momento para introduzir tais alimentos.
Enfim, isso é apenas uma parte das inúmeras coisas que descobri de diferenças e seus motivos na IA por aqui. Tentei expor neste texto não tanto a minha opinião, mas o máximo de conhecimento científico com que me deparei em minhas pesquisas. No meu próximo post, contarei um pouco mais como foi, ou melhor, como está sendo a nossa experiência com tudo isso. Até lá!
5 Comentários
Difícil né? Cada país tem seus costumes por isso o melhor é sempre ir com sua intuição e muita pesquisa quando se refere aos nossos filhos. Acredito que a experiência de estarmos longe do Brasil ajuda e enriquecer nossa experiência materna pois nos ajuda e ver que não existe somente um caminho.
Exatamente isso, Carolina! No próximo texto vou falar um pouco sobre nossa IA e pretendo colocar exatamente isso, o quanto pode ser enriquecedor ter essa experiência de estar fora! Beijo!
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