No meu último texto escrevi sobre algumas diferenças entre Brasil e Itália no que se refere à introdução alimentar (IA) do bebê. Como foi um momento para nós de algumas dúvidas, resolvi dividir um pouco do que aprendi com outras mães que estivessem passando pela mesma situação. Neste texto pretendo contar um pouco como está sendo o nosso percurso nessa jornada de tanta descoberta.
Como o BLW entrou na nossa vida
Conforme fui entrando em contato com esse mundo novo, não estava pensando em métodos, achava que ia ser uma coisa fácil. E sem saber eu planejava uma IA participativa, ou seja, em que o bebê é ativo: mostra interesse na comida e vai em direção a ela, ainda que a receba a colheradas de um cuidador. Ah, se todas as crianças aceitassem tudo assim, que mundo perfeito, né?
Aos 6 meses minha filha mostrava praticamente todos os sinais de prontidão que já mencionei no último texto, exceto que não se sentava sem um bom apoio, então decidi começar de forma bem gradual. Quando cozinhávamos algum legume ou verdura, separava um pouco sem sal e tentava dar com a colher. Nada de ela abrir a boca! Nada de interesse! Aí nos sentávamos à mesa para comer e ela só sossegava no colo e ficava o tempo todo tentando “assaltar” nossos pratos. Um dia falei para meu marido que a deixaria pegar a abobrinha do meu prato para ver o que ela faria: e não é que a danadinha amassou tudo e ficou lambendo a mãozinha? E foi assim com outros alimentos, eu tentava oferecer na colher, ela negava, dava um pedaço em sua mão, ela explorava e acabava na boca.
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Eu até aí conhecia pouco do método BLW, baby-led weaning (que em tradução literal seria desmame guiado pelo bebê, mas acho mais apropriado dizer introdução alimentar guiada pelo bebê), em que o bebê recebe os alimentos em pedaços e preparados de forma segura e come sozinho com as próprias mãozinhas – dito de forma bem simples. Como percebi que era o que a O. procurava, li muito sobre o assunto e devagar fomos nos aventurando. Foi muita sujeira? Sim!!! Mas também foi um aprendizado simultâneo que valeu muito a pena. Não posso dizer que seguimos um método à risca, mas que nos identificamos com as ideias por trás deste, que vai muito além de “deixar a criança comer sozinha”.
O processo
No início era exploração apenas, acho que muito pouco ia parar na barriga. E até ela sentar com pouquíssimo apoio, já com quase 7 meses, eu oferecia algumas poucas coisas no colo, a deixava manipular, oferecia coisas com as mãos, já que da colher ela não aceitava, mas da minha mão sim. Somente no fim do sétimo mês, se bem me lembro, o interesse por comer foi aumentando. Coincidência ou não (acho que não), conforme ela ficava mais firme, mais desenvolta ela ficava nas refeições

Cortes no início. Foto de arquivo pessoal
Por volta dos 8 meses teve uma verdadeira explosão. Foi quando aceitei de vez que teria muita bagunça, mas teria uma grande satisfação também. Ela começou a desenvolver o movimento da pinça e começamos a oferecer coisas menores. Ela já fazia todas as refeições, e sempre que possível junto conosco. Até uns 9 meses o café da manhã e da tarde ainda eram só fruta, mas próximo dos 10 meses percebi que ela precisava de mais e algumas receitinhas entraram na lista. E nas refeições principais procuro desde sempre oferecer um alimento de cada grupo (carboidrato, proteína, verdura, legume).
Nessa época a vovó veio do Brasil nos visitar, ela experimentou comidinha de vó e passou a aceitar mais a colher, mas raramente se eu oferecia. Posso dizer que desde então a O. é uma bebê que come bem. O interesse pelos talheres aumentou, e ela mesma começou a tentar usar a colher ou o garfo, tudo sem pressão de nossa parte. Próximo de um ano teve uma fase – que vai e vem até hoje – que não quer comer com as mãos, mas espera que alguém lhe dê as coisas de colher. Nós continuamos incentivando a sua autonomia, mas sabemos que se trata de um bebê e oferecemos nós se percebemos que é o que ela quer naquele dia.

Alguns pratinhos. Arquivo pessoal
Após um ano pouca coisa mudou, fomos deixando de separar a sua comida sem sal. Admito que já um pouco antes oferecíamos algumas coisas com um pouco de sal, pois desde o início tentamos oferecer a ela a mesma coisa que estávamos comendo, ainda que a apresentação por vezes fosse diferente.
Começamos a dar queijo e iogurte e usar leite de vaca em receitas. Ela ama queijo – qualquer um – já o iogurte natural não foi paixão à primeira colherada, mas agora com 17 meses ela gosta se coloco junto uma fruta picadinha ou amassada, por exemplo.
Seguimos sem açúcar e assim pretendemos ficar ao menos até ela completar 2 anos. E eu sigo lendo rótulos de tudo, o que me fez também melhorar as escolhas do que compramos em geral. A grande complicação em relação a isso aqui na Itália é que, apesar de se encontrar muitas opções saudáveis nas prateleiras do supermercado, a grande maioria das coisas contém açúcar, mesmo os biscoitos recomendados a partir de 6 meses. Eu não compro, mas passo alguns apuros quando estamos no parquinho e outras crianças estão comendo e as mães oferecem a ela. Sempre agradeço e tiro a sua opção saudável da bolsa, o que nem sempre é o que ela quer, já que é diferente do do outro.
E a família?
Nós somos muito sortudos com as nossas famílias, que sempre respeitaram muito as nossas escolhas. Claro que um estranhamento foi inevitável, vi minha sogra ter princípios de infarto a cada vez que via a O. colocar um pedaço maior de alimento na boca e acabar tendo um reflexo de gag. Perguntas como por que não dar queijo parmesão, ou quando ela ia comer a sopinha de macarrão estrelinha – clássicos da introdução alimentar italiana – não faltaram. Com minha mãe não foi muito diferente, mas todos aceitaram o novo. Quando deixamos a O. com os avós para uma refeição sem nós, eles estavam livres para lhe dar comida amassada e de colher, e assim foi feito. Minha única exigência era que a preparação fosse de acordo com aquilo que nós fazemos – antes de um ano sem sal e laticínios, e até hoje sem açúcar.
Minhas considerações finais
Eu aprendi muito com a O. nesse período, e o maior aprendizado foi sem dúvida o de que eu não posso controlar tudo. Não adiantava ficar batendo cabeça com ela e insistir na colher se ela deu claros sinais que queria explorar os alimentos sozinha. Respeitá-la nesse processo foi essencial. Se eu surtei algumas vezes? Muitas! Até hoje tenho meus momentos de insegurança! Obviamente ela não come sempre bem, às vezes seleciona e come só parte do que ofereço, às vezes cospe e joga comida… E teve um bom período que não engordou sequer um grama, gerando pressão da pediatra. Mas também teve elogio por parte dela ao ver o que cozinhamos (fizemos diário alimentar com fotos para mostrar que ela tinha à disposição comida de verdade e de qualidade – não engordar faz parte da sua natureza).
Continuamos na amamentação, visto que o leite até 1 ano é o principal alimento, e após esse período ainda traz inúmeros benefícios para mãe e bebê. Sempre que ela me pedia para mamar logo antes e muitas vezes durante uma refeição eu nunca neguei, e jamais percebi ela rejeitar comida após o leite. Mas a primeira vez que ela rejeitou o peito por um prato de comida não me esquecerei!
Enfim, se alguém me pedisse um conselho para essa fase, eu só poderia dizer: confie no seu bebê, respeite suas vontades e persista oferecendo comida de qualidade.
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