Conforme tratei no meu texto anterior, as duas principais preocupações iniciais quando decidimos viver em Hong Kong eram a questão da língua e a adaptação à comida.
Resolvido o problema linguístico, vou falar da nossa experiência com a alimentação em Hong Kong.
Em primeiro lugar, não podemos falar de “comida oriental”, afinal, isso engloba um universo de variedades tão amplas e distintas como é o próprio continente asiático em si. Também não podemos falar que se trata de “comida chinesa”, porque na China continental também há uma variedade de preparações proporcional ao tamanho do país.
Como se define então a comida de Hong Kong?
A comida típica de Hong Kong tem influência direta da comida tradicional do sul da China, mais precisamente da região de Cantão, de onde veio a maioria da população. Entretanto, por aqui é possível comer praticamente a culinária do mundo todo, já que a cidade tem muitos restaurantes de culinária internacional e os supermercados também importam muitos ingredientes de quase todas as partes do mundo.
Quais são os pratos típicos de Hong Kong?
Entre as comidas mais tradicionais estão os “dim sum” ou “dumplings”, que são bolinhos cozidos no vapor, recheados de vegetais, camarões e principalmente, carne de porco (vide a foto principal). São servidos normalmente em cestas de bambu e acompanhados de chá ou água morna (como quase todas as refeições por aqui!).

O tradicional chá verde, que sempre acompanha as refeições (Fonte: Pixabay)
Outro “bolinho” bem típico em Hong Kong é o Cha Siu Baau (aqueles que o Kung Fu Panda come no filme, sabe?). É feito de uma massa bem molinha e recheado de carne de porco agridoce. Eu gosto, mas quem não gosta de misturar doce e salgado não curte muito.
Além dessas duas iguarias, é bem comum o pato a Pequim, seja em restaurantes refinados, seja na comida de rua. O pato é apresentado inteiro, depois destrinchado para servir. Eu particularmente tenho horror de ver o patinho inteiro, com bico e tudo, pendurado nas vitrines na rua, mas quem comeu diz que é muito macio e saboroso. O tom avermelhado da pele é dado pelo tempero composto de molho de soja e mel, entre outros condimentos.
Leia também: Alimentação na Holanda: o que as crianças comem?
A comida de rua é muito presente em Hong Kong. Embora não sejam permitidos ambulantes por aqui, há muitas pequenas “lojinhas”, “portinhas” que vendem uma infinidade de opções de comida na rua. Como boa nutricionista que sou, não confio no controle de temperatura desses alimentos e não tenho coragem de experimentar nada. Portanto vou ficar devendo uma análise mais detalhada desse tipo de comida de rua. Entre os quitutes mais comuns estão diversos tipos de carnes no espeto, bolinhos de peixe com curry, pães, egg puff (uma espécie de waffle de ovo) e vários doces feitos com feijão, além do “bubble tea”, aquele chá com leite e bolinhas de tapioca no fundo.

Pato a Pequim, pãozinho recheado com doce de feijão, egg puff e dim sum. (Fonte: Arquivo pessoal e Pixabay)
E antes que perguntem, não, aqui não se come cachorro. Pelo menos não que eu saiba, muito embora tenha ouvido relatos de que na China continental isso às vezes acontece.
Adaptando o paladar
De tudo isso, do que mais gostamos e consumimos com certa frequência são os dim sum e os guiozas (que na verdade são bolinhos japoneses mas muito comuns aqui também). Não são preparações fritas (como grande parte da comida chinesa) e como os recheios são variados, acabam agradando a todos da família, com exceção da minha filha mais nova, super seletiva e nada corajosa para experimentar novas iguarias. Ela prefere continuar no seu arroz, feijão, bifinho, macarrão com molho de tomate, estrogonofe de frango e assim vamos. Ela ainda se recusa a experimentar qualquer preparação nova e temos respeitado, embora sempre ofereçamos. Ela já era bem seletiva no Brasil e não prevíamos que aqui seria diferente.
As refeições em casa
Em casa mantemos praticamente o mesmo cardápio que tínhamos no Brasil. É possível encontrar a maioria dos nossos ingredientes nos supermercados, embora com preços bem elevados, já que são importados (100g de peito de peru, por exemplo, sai cerca de 30 reais; um litro de leite, o equivalente a 15 reais). Além disso, uma de nossas conterrâneas traz do Brasil produtos típicos a cada dois ou três meses, como arroz (aqui há muito arroz mas todos “papa”), feijão (o carioquinha não se acha fácil), polvilhos, farofa, mistura para pão de queijo, goiabada etc.
As refeições na escola
Como as escolas aqui são em tempo integral, as crianças almoçam lá todos os dias . Nos primeiros meses paguei pela comida oferecida pela escola, mas as meninas não gostaram das preparações. Não apenas pelos ingredientes muitas vezes não habituais, mas principalmente pelo tempero, mais condimentado, picante, agridoce às vezes. Depois disso passaram a levar marmita de casa.
Quem mais conhece a culinária local
Minha filha mais velha, de 13 anos, é a mais corajosa para experimentar a comida local. Sai com frequência com as amigas orientais e já esteve em vários restaurantes de comida japonesa, coreana, chinesa, tailandesa, vietnamita. Algumas coisas ela curte, outras nem tanto, mas não tem medo de tentar e de todos nós é que mais se aventura. Chega em casa contando sobre os pratos diferentes e suas aventuras gastronômicas. Conhecer um país através de sua gastronomia é um aprendizado incrível. Seguramente ela vai levar muito de tudo isso na sua memória para sempre!
1 Comentário
[…] também Como nos adaptamos (ou não!) à comida de Hong Kong e Mas que língua se fala em Hong […]