Alimentação infantil em Israel.
Quem nunca julgou uma mãe por oferecer ao seu filho a opção menos saudável? Eu já e várias vezes. Hoje, com uma filha de 1 ano e quatro meses, começo a perceber o quanto o meio desempenha um papel bastante forte na construção de hábitos alimentares.
Israel é um país marcado pela diversidade geográfica, política, cultural e gastronômica. A culinária israelense é uma fusão de comidas tradicionais do Oriente Médio, da culinária Mediterrânea e da cozinha judaica vindas da Europa Central e Oriental. Traduzindo em miúdos, comida de rua, aquela que você encontra em cada esquina, é húmus, falafel, shawarma, kebab, muitas vezes colocados com batatas fritas dentro de um pão sírio, tudo regado a muita salada. Já a comida de casa depende de ascendência, preferência e se o kashrut (leis alimentares do judaísmo) é respeitado.
Uma curiosidade sobre o costume israelense é o de comer salada de pepino, tomate, pimentão, cebola, salsinha e coentro no café da manhã.
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Talvez nem todos tenham tempo de preparar uma salada logo cedo mas, se você for a um café, essa será a opção mais consumida junto com ovos e queijos. Esse costume auxiliou a render aos israelenses o nono lugar no ranking mundial da dieta mais saudável do mundo, segundo o Bloomberg Global Health Index (leia mais sobre o assunto aqui).
Isso explica as muitas vezes que me peguei sorrindo com a imagem surreal de uma criança pequena comendo um pepino inteiro na praia. Imaginei um mundo de fantasias como aquele do comercial onde uma criança pede pra mãe comprar brócolis e chicória. Mas esse meu mundo desmoronou parcialmente quando passei a conviver com os filhos do meu marido, na época com 6 e 4 anos. E não foi por eles não comerem pepino, cenoura ou pimentão crus, mas pela falta de variedade no que lhes era oferecido e pela falta de opções saudáveis nos menus infantis dos restaurantes.
O menu infantil em restaurantes de Tel Aviv
Aqui em Tel Aviv o menu infantil mais comum traz filé de frango à milanesa (schnitzel), nuggets, hambúrguer, almôndegas de carne, em geral acompanhado de batata fritas, purê ou arroz. Macarrão e pizza também são populares. E a salada? Salada propriamente dita quase não vejo no menu infantil, mas às vezes pepino, cenoura e tomate são servidos como acompanhamento. Incluso no “combo saúde” estão bebidas e sobremesa que em geral não são frutas e sim sorvete.
Confesso que quando olho um menu infantil me vem a cabeça o excesso de fritura e carboidratos. Açúcares a parte, não percebo essa discrepância entre o nono lugar mundial e a dieta infantil israelense no que diz respeito a restaurantes. O menu infantil parece ser um eco do que estou acostumada a ouvir de outras mães sobre o favoritismo e a freqüência de seus pequenos comerem o tal do frango a milanesa (schnitzel) e/ou orgulho de oferecer a opção mais saudável feita no forno.
O lanche da escola
Do maternal até a metade do ensino médio leva-se lanche. Tanto no maternal como na pré-escola almoço é servido para os que ficam o período da tarde. Em 2009, o Ministério da Educação, com apoio do Ministério da Saúde, criou regulamentos proibindo a venda de alimentos com alto teor de açúcar, sal e gordura nas cantinas escolares, abrindo assim um precedente de que os lanches também fossem mais saudáveis. Nada de mandar porcaria pra escola! Vale ressaltar que cantinas aqui são quase sempre um privilégio do ensino fundamental, do sétimo ao nono ano e do ensino médio e mesmo que haja o regulamento, minha enteada de 13 anos diz que na sua escola, ainda são vendidos refrigerantes e burekas (tipo de folhado ou empanada).
Embora os pais decidam o que mandar as sugestões de lanches são: um sanduíche, um legume e uma fruta. Os recheios mais comuns parecem ser: pasta de queijo branco, cottage, atum ou, os menos populares, embutidos. Pão branco ainda parece imperar nas lancheiras dos pequeninos, mas a garrafinha de água tem seu lugar garantido. Aparentemente os industrializados, folhados e pizzas estão perdendo espaço até pelo menos que eles cheguem ao ensino médio.
Bamba, o salgadinho nacional sem culpas?
Bamba é um salgadinho israelense feito de 50% amendoim e fortificado com vitaminas A, B1, B3, B6, B12, C, E, ácido fólico e ferro e considerado por inúmeros estudos nos EUA e Reino Unido como o responsável por previnir, em até 81%, alergia ao amendoim quando oferecido a bebês entre 4 e 6 meses (leia mais aqui). Israel não é um país livre de alergia a amendoim, no entanto ela é, comprovadamente, bem menos comum do que em países como Canadá, EUA e Reino Unido.
O aumento tardio de alergias em Israel fez com que somente em maio de 2018 um projeto de lei, que visa a adaptação das escolas a alunos sensíveis a nozes e amendoim, fosse aprovado pelo Comitê Ministerial de Legislação de Israel. O projeto prevê que as instituições educacionais devem estar livres de produtos que contenham alimentos que causem alergia, além de possuir injetores de epinefrina, injeções que evitam o choque anafilático. Até recentemente, muitos dos pais de crianças alérgicas trabalhavam de forma independente junto com professores e administradores para oferecer a seus filhos um ambiente escolar seguro, informando aos outros pais e coleguinhas sobre a condição a ser respeitada.
A difícil tarefa de criar um hábito alimentar saudável na minha pequena está só começando. A Liv é uma bebê que come bem, mas nem sempre come o que deveria. Tem uma babá israelense que, embora fique com ela somente de duas a três horas ao dia, adora mimá-la com o tal Bamba, bolachinhas e pão. Também não são poucas as vezes que vamos brincar no parquinho e vemos outras crianças desfilarem com seus atraentes saquinhos de salgadinhos e no calor, sorvete. Meus cabelos ficam em pé e sempre me pergunto onde estão aquelas crianças que costumava ver na praia comendo pepino…será que foi miragem?
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