Alimentação e obesidade infantil no Chile.
Há pouco mais de dois meses, comecei um programa de reeducação alimentar, não só pela minha saúde, mas também pela quantidade de lixo que produzimos com tantos alimentos industrializados e facilidades da vida moderna. Não me tornei vegetariana e nem vegana, mas confesso que o tema da alimentação saudável vem me chamando a atenção desde então. Com isso, comecei a pesquisar mais sobre o assunto e encontrei dados bastante preocupantes.
Segundo um estudo feito pelo Instituto de Nutrición y Tecnología de los Alimentos (INTA), no ano de 2016 o Chile estava classificado como 6 lugar no ranking mundial de obesidade infantil e o 1 lugar na América Latina. Ainda segundo esse estudo, se constatou que se nada fosse feito 70% das crianças poderiam chegar a ser obesas em um curto prazo.
De acordo com dados do Ministério de Saúde, no ano de 2003 havia cerca de 6,8 milhões de obesos no país, número que saltou para 8,9 milhões no ano de 2010. É certo que a obesidade é um problema mundial, até me arrisco a dizer que se trata de uma epidemia silenciosa devido ao estilo de vida atual, ao sedentarismo e aos maus hábitos alimentares.
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Mas o caso do Chile, me chamou a atenção por ser considerado o número 1 da América Latina, apesar de ter uma costa imensa com uma variedade de peixes e frutos do mar e apesar de ser um importante produtor de frutas na região. Nesse estudo do INTA, se destacou que o consumo de açúcar, sal, maionese e sorvetes é o dobro do que o identificado no restante da região.
Diante desses dados, comecei a observar com mais cuidado a oferta de alimentos para as crianças e me chama a atenção que em restaurantes o menu infantil seja, na maioria das vezes, pizza, hambúrguer com batatas fritas e massas. Aí me lembrei de uma situação que me aconteceu há alguns anos quando saímos com meu filho para comer fora e pedi para a garçonete mudar a batata frita por brócolis. Lembrei-me do olhar de estranheza e a necessidade de verificar a possibilidade de mudar o menu.
Com isso, comecei a me questionar de onde vem essa associação de alimentação infantil com comidas não saudáveis. A resposta que encontrei até agora só me remete a propaganda, excesso de televisão e grandes empresas do setor de alimentos que não tem nenhuma responsabilidade sobre os efeitos das publicidades que geram, mas essa discussão, pretendo deixar para outro momento.
Depois da publicação do estudo do INTA, o governo chileno adotou algumas medidas para tentar conscientizar as pessoas sobre o que estão consumindo. Por isso, surgiu a lei nr. 20.606 também conhecido como Ley Super 8. O Super 8 é um chocolate bastante popular no país, daí a lei receber este apelido. Esta lei trata da composição dos alimentos e a publicidade em volta dos mesmos, ou seja, todos os produtos alimentícios devem vir com os símbolos indicativos de alto teor de sódio, açúcar, gorduras saturadas e etc. Estes símbolos são identificados com a cor preta e ocupam um espaço importante da embalagem. Minha dúvida é se realmente esta medida gerou algum efeito nos hábitos alimentares da população. Ainda não encontrei um estudo que fizesse essa análise.
Além disso, os produtos com selo preto não podem ser comercializados em estabelecimentos educativos. Também se incluiu a obrigatoriedade de se realizar atividades didáticas envolvendo o tema da alimentação saudável como parte do currículo das escolas, já que a população infantil é a que vem sendo mais afetada pelo excesso de peso no país.
Essa informação é importante não são para os consumidores, mas também para aqueles que pretendem trabalhar com alimentos no país. Toda comercialização de alimentos deve vir com os selos de identificação. Portanto, é importante verificar a normativa e quais são os limites estabelecidos pela lei.
O que se pode concluir é que a questão da obesidade infantil deve ser analisada por uma óptica mais ampla como uma questão social, já que as crianças copiam o que veem ao seu redor. Isso quer dizer que se as crianças estão se alimentam mal é porque seu entorno também está, seja no ambiente familiar e no ambiente onde vivem e os locais que frequentam. Portanto, o tema alimentar merece uma mudança radical e se queremos melhorar os hábitos infantis, devemos nós os adultos começar a questionar nossos próprios hábitos.
Como sugestão deixo aqui algumas dicas de restaurantes com uma proposta de alimentação mais saudável. Ainda não conheço todos, mas fica o convite para visitá-los.
Quínoa – destacado por sua comida vegetariana gourmet. Todo o que se consome aí é elaborado ne mesmo dia e tem como características ressaltar os ingredientes frescos e típicos de cada temporada. Endereço: Luis Pasteur, 5393, Vitacura, Santiago.
El Huerto – Já com 30 anos de experiência busca uma alimetação saudável e novos sabores. Endereço: Orrego Luco, 54, Providencia, Santiago.
El Árbol – Oferece comida saudável e gourmet elaborada com produtos orgânicos e de alta qualidade. Também oferece aula de culinária e oficinas para quem quer aprender mais sobre alimentação saudável. Endereço: Huelén, 74, Providencia, Santiago.