Adolescente expatriada fala sobre sua adaptação
No meu texto de fevereiro trouxe mais um pouquinho do assunto sobre medos e dificuldades na adaptação de um adolescente expatriado. Contei um pouquinho da realidade que vivi morando na Geórgia e como olhava para o adolescente americano e o brasileiro.
Já que meus filhos eram pequenos quando morei lá e hoje ainda trabalho atendendo brasileiros expatriados, resolvi dividir um pouco dessas angústias e informações com vocês. Então convidei uma mãe e sua filha adolescente para falar um pouquinho dos seus pontos de vista.
No mês passado, você acompanhou a entrevista e opinião da mãe Lauriane e hoje trago a entrevista da adolescente Beatriz.
Entrevista
Mães Mundo Afora: Qual seu nome e quantos anos você tem?
Beatriz Viveiros, 16 anos.
Há quanto tempo você mora fora e porque se tornou uma expatriada?
Moro fora faz 2,5 anos porque meu pai foi transferido pelo trabalho dele.
Você tinha vontade de morar fora?
Sempre tive vontade de morar fora, mas não esperava que fosse acontecer naquele momento
Quais foram as suas expectativas quando soube que iria se mudar?
Minhas expectativas eram que tudo iria ser lindo e perfeito como um filme americano, tipo ter uma casa gigante e ser super popular na escola.
Quais eram suas preocupações antes de ir?
Antes de ir eu só me preocupava com como eu iria me adaptar, tipo como seria minha vida sem meus amigos e sem minha família junto de mim o tempo todo.
O que você acha que foi mais difícil no início, quando chegaram ao novo país?
Quando chegamos nos EUA não tínhamos o costume de falar inglês no dia a dia, então isso foi uma coisa bem difícil e impactante que aconteceu com a gente. Também tivemos que nos acostumar a fazer novas amizades e achar um jeito de ficar bem sem ter a nossa família por perto.
Como é ser imigrante nos EUA?
Ser imigrante aqui é às vezes bom e às vezes muito revoltante. A parte boa é que somos minorias e então temos muitos perks* (não sei falar isso em português) e muita gente tenta ser inclusiva com toda a nossa cultura e tudo mais. A parte chata é que somos a minoria e muitas vezes somos vistos como inferiores e isso pode prejudicar a gente em muitos aspectos. Tipo, às vezes acham que somos menos inteligentes ou que não podemos fazer algo porque não somos americanos.
*perks, em inglês, significa regalias, benefícios.

Acervo pessoal da entrevistada
Você acha que já está adaptada?
Acho que não estou 100% adaptada porque acredito que não é possível um dia chegar nesse 100%, mas tenho certeza que estou perto de uns 80%.
Tem vontade morar de volta no Brasil? Por quê?
Vou morar de volta no Brasil quando já estiver mais velha, sim. Para poder me reconectar com a minha família.
No seu ponto de vista, o que fez você se acostumar com o novo país?
O que me fez adaptar nos EUA foi o tempo. Não teve nada que eu fiz especificamente que fez me adaptar rápido assim.
Se você pudesse dar dicas para um adolescente que vai se mudar para outro país, quais dicas você daria?
As dicas que eu daria são: é muito importante que você dê tempo ao tempo. Não pense que você vai se adaptar right away (imediatamente) porque não é possível. Outra coisa que é super legal de saber é que as coisas não são fáceis igual um filme, mas que são culturas e jeito de viver super diferentes. Mas o mais importante de tudo é que não tenha vergonha de ser brasileiro, porque é isso que te faz único e diferente de todo mundo.
Espero que essas entrevistas possam ajudar outros pais e adolescentes expatriados que estejam passando pela mesma situação ou momento semelhante a esse. Como tenho dito por aqui em meus textos, não é fácil, mas você precisa estar aberto às mudanças e se posicionar frente a elas.
Nas duas entrevistas você percebeu que ambas falam de como tiveram dificuldades, mas vêm trabalhando no sentido de se adaptar. Além disso, a parceria dos filhos e dos pais é fundamental para que essa base e segurança possam se firmar.
Gostaria muito que você, leitor/a que está passando ou já passou por um momento semelhante, deixasse o seu depoimento de como foi para você essa fase. Vamos crescer juntas e fazer uma rede do bem. A sua vivência pode ajudar muito.
Beijos e até a próxima.