Se parte dos jovens brasileiros vive um estresse durante o último ano do Ensino Médio, com ENEM e vestibular, além da escolha da carreira e ingresso na faculdade, saiba que aqui nos Estados Unidos não é diferente. O processo para ingresso em uma universidade nos EUA não é tão simples e romanceado como nos filmes, mas cercado de preocupação e com uma dose de angústia. O mundo hollywoodiano nos vende a falsa ilusão de que basta preencher uns formulários, enviar para a Universidade dos seus sonhos e aguardar o envelope contendo a carta de aceite. Será tão simples assim?
Alerta de spoiler
Este texto não pretende abordar as questões pertinentes a jovens residentes no Brasil que queiram ingressar em universidades americanas, com informações sobre imigração e vistos. Vou narrar um pouco da minha experiência pessoal com o processo de estudos dos meus filhos que já vivem nos EUA.
Planejando a Universidade para os filhos
Dados divulgados pelo U.S. Bureau of Labor Statistics em outubro de 2018, apontam que 69,10% dos alunos que concluíram High School naquele ano ingressaram no ensino superior (Colleges ou Universities, para saber a diferença clique aqui.).
Mas, apesar do aparente alto índice, há milhares de estudantes americanos que param de estudar ao completar o Ensino Médio. Um dos maiores impedimentos para realizar o sonho de se formar na universidade nos EUA tem nome e sobrenome: alto custo.
Educação pública ou privada
Grande parte dos estudantes estão matriculados em escolas públicas nos Estados Unidos. As escolas privadas, além do custo, podem apresentar outros fatores que a distanciam da escolha das famílias. Um dos mais considerados é a localização geográfica (neste meu texto vocês entenderão que os alunos são zoneados para ingresso na escola pública) e nem sempre há oferta de escola privada nas proximidades da residência. Outro fator é a denominação religiosa (78% das escolas privadas têm embasamento religioso, ainda que em diferentes vertentes, segundo o Council for American Private Education).
Do ponto de vista financeiro, é válido esclarecer que escola pública não é sinônimo de custo zero! Trata-se de um recurso que é sustentado pelos impostos pagos pelos cidadãos. Isso é levado muito a sério por aqui pois as taxas cobradas anualmente das propriedades, similar a um IPTU brasileiro, são bastantes altas e são calculadas a partir do oferecimento de educação e segurança pública no entorno.
Leia também O escândalo da compra de vagas em universidades nos EUA
Mesmo que as famílias optem por não ter custos adicionais de mensalidade escolar e matriculem seus filhos na escola pública, no futuro a história muda. A realidade é que não há ensino superior “gratuito”. Mesmo as universidades públicas têm custos para os estudantes.
Custos estimados do curso universitário
O custo para cursar o ensino superior (tuition) varia quanto ao tipo de instituição (pública ou privada), tempo de formação (anos de estudo ), relação local da residência/local da universidade (por conta de recolhimento de impostos, sendo in-state ou out-of-state tuition), além da necessidade de viver no campus universitário.
Há instituições de ensino que oferecem cursos superiores com duração de dois anos e são chamadas Community Colleges (Faculdades Comunitárias, em tradução livre). Ao final dos dois anos, o aluno pode partir para o mercado de trabalho ou, migrar para uma universidade e completar por mais dois anos o processo de formação profissional específica. Essa questão da formação profissional será abordada em próximos textos.
Veja no quadro abaixo (tradução livre desta página) uma estimativa de custos
Custo médio anual, em dólares, para cursar Universidade nos Estados Unidos (base ano escolar, de agosto de 2018 a maio de 2019) | ||||
Faculdades Comunitárias (público – curso de 2 anos) | Universidade pública – in-state – 4 anos | Universidade pública – out-of-state – 4 anos | Universidade privada – 4 anos | |
Taxa escolar | US$ 3.660 | US$ 10.230 | US$ 26.290 | US$ 35.830 |
Moradia e alimentação (morando no campus) | US$ 8.660 | US$ 11.140 | US$ 11.140 | US$ 12.680 |
Total por ano | US$ 12.320 | US$ 21.370 | US$ 37.430 | US$ 48.510 |
Fonte: College Board |
Pais e alunos podem fazer simulações financeiras acessando este link.
Como as famílias equacionam essa questão? De algumas formas: planejamento financeiro durante a infância e adolescência do filho (geralmente com suporte de agentes financeiros ou de instituições bancárias) e/ou busca de ajuda financeira (isenção de taxas, empréstimos governamentais ou bolsas de estudo).
E o planejamento do estudante?
Para o estudante de High School também é reservada uma série de planejamentos.
Notas
Assim como em qualquer outra parte do planeta, o sistema de avaliação de aprendizado é conferido por meio de notas. O aluno monta seu currículo de disciplinas ao longo dos semestres da High School , com apoio do coordenador pedagógico (counselor), e vai “trabalhando” a relação créditos necessários para se graduar e a busca por uma boa média geral. O GPA (Grade Point Average) é uma média geral ponderada e varia de 0.00 a 4.00. Cada universidade pode decidir o GPA mínimo para ingresso, mas em geral é superior a 3.00.
SAT
Quem disse que os alunos escapam de ENEM e vestibular por aqui? Mais ou menos isso. Existe um teste chamado SAT (Scholastic Assesment Test). Trata-se de um exame de entrada utilizado como parâmetro pela maior parte das universidades para tomada de decisão quanto à admissão do aluno.
É um teste que dura cerca de três ou quatro horas (conforme se opta por fazer ou não a redação) e apresenta questões de múltipla escolha de duas grandes áreas do conhecimento: matemática e língua (habilidades de leitura e escrita em inglês, como se fosse uma prova de Língua Portuguesa que avaliasse conhecimentos de gramática, literatura, compreensão de texto, etc). O máximo de pontos que se pode alcançar é de 1.600, sendo a média mínima que se busca atingir é 1.060.
O SAT é elaborado pelo College Board e alunos podem se inscrever mediante o pagamento de uma taxa (46 dólares, ou 60 dólares se incluir redação). Há oferta nacional desse exame, anualmente, nos meses finais de cada semestre letivo. Todos os alunos são encorajados a realizar esse exame mais de uma vez, em diferentes anos escolares, para melhorarem seu escore.
Trabalho voluntário
A sociedade americana encoraja e valoriza o trabalho voluntário. É muito comum a prática do voluntariado para qualquer membro da família, de crianças aos avós, independente da área de atuação e número de horas anuais.
Portanto, dedicar-se a trabalhos comunitários, agrega valor ao perfil do candidato, mesmo não sendo exigência para graduar-se ou ingressar na faculdade.
Cartas de recomendação
O aluno deve solicitar aos professores ao longo do ensino médio que redijam uma recomendação para anexarem ao processo de aplicação para a universidade. As cartas de recomendação geralmente são enviadas diretamente para a instituição à qual o aluno tem interesse de ingressar. Ou seja, não são entregues nas mãos dos solicitantes.
Se o aluno só arregimentou desafetos, condutas desfavoráveis e baixo desempenho ao longo dos seus anos escolares, será bem difícil conseguir boas cartas de recomendação.
Vale acrescentar que as cartas podem ser redigidas por professores de atividades extracurriculares. Como por exemplo: professor de línguas, técnicos esportivos, intrutor de música, etc. Também são aceitas cartas elaboradas pelo corpo diretivo ou coordenadores dos locais aonde o aluno realizou atividades voluntárias, ou ainda, qualquer pessoa que tenha efetivamente feito parte do processo educacional do aluno, formal ou informal.
Após pais e alunos fazerem sua parte ao longo do ensino médio, é a hora de fazer a aplicação para a Universidade. No próximo texto, a saga continua.
4 Comentários
Claudia, achei o texto por acaso em primeira mão!! Que super texto! Cheio de informações importantes.
Minha prima inteligentíssima sempre com ótimas notícias bjos
[…] texto anterior, (clique aqui para ler a parte 1) falamos em linhas gerais dos testes preparatórios, modalidades de ensino superior e custos d […]
[…] seus custos. Recomendo que leiam os textos anteriores para melhor compreensão de todo o processo: parte 1 e parte […]