Com este texto fecho a trilogia sobre minha experiência com ingresso dos meus filhos na Universidade nos EUA e seus custos. Recomendo que leiam os textos anteriores para melhor compreensão de todo o processo: parte 1 e parte 2.
É importante frisar que não tenho a pretensão de passar informações sobre vistos, equivalência com currículos de universidades em outros países ou validação de diplomas. Para quem deseja informações sobre vistos clique aqui e para outras questões acadêmicas sugiro pesquisar no tópico estudantes/transferências internacionais no site das Universidades.
Sonho e realidade
Conforme mencionei nos textos anteriores, há um longo caminho a ser percorrido pelos jovens até o ensino superior aqui nos Estados Unidos. Entre o sonho e a realidade existe a ponte “custos”. O custo médio anual para cursos superiores varia de US$4,000 a mais de US$50,000 por ano.
Como esses valores podem impactar grandemente a jornada dos estudantes, as scholarships podem ser uma opção.
O que é Scholarship?
Peço licença para usar o termo em inglês, pois a tradução literal, bolsa de estudos, está atrelada a outra cultura e outras formas de prover recursos educacionais.
Deve-se entender a scholarship como uma premiação em forma de ajuda financeira. Pode ser recebida pelo desempenho acadêmico, pela escolha de alguma área específica de estudo ou por algum talento, como por exemplo, habilidades esportivas. Sendo uma premiação não precisa ser paga de volta ao provedor.
Essa ajuda financeira pode vir em forma de um aporte único, ou, ser renovada a cada semestre. Pode ser recebida em forma de cheque nominal pelo estudante ou endereçada diretamente para a escola. Pode haver restrições e regras para aplicação desse recurso. Às vezes, é exclusivo para compra de livros, outras para pagar parte da tuition (valor da faculdade em si), ou apenas para as despesas de moradia estudantil, por exemplo.
Como fazer a busca por scholarships?
Já demos a dica sobre a busca no próprio website da Universidade, ou ainda melhor, agendar uma visita ao Financial Aid Office (Departamento de Auxílio Financeiro) no campus universitário. E não é só para novatos pois a cada semestre os alunos devem ficar atentos às novas possibilidades de aplicação ou renovação.
Outro recurso é a aplicação para o FAFSA (lê-se “fáfiza” e é a sigla para Federal Student Aid ). Há critérios claramente estabelecidos, tais como a situação financeira da família comprovada pelo imposto de renda americano (IRS) e status imigratório. Clique para saber mais sobre o FAFSA.
Navegue bastante na internet pois há diferentes sites, aplicativos e consultorias para busca de scholarships por todo o país. Não deixe de buscar por área de estudos.
Valor das scholarships
Este artigo publicado pelo The Washington Post mostra que apenas 1,5% dos estudantes consegue a totalidade dos recursos para cursar uma universidade somando todas as ajudas financeiras possíveis, incluindo aquelas por mérito: GPA máximo de 4.0 e máxima pontuação nos testes SAT/ACT, seguido por GPA máximo em todos os semestres da faculdade.
Também aponta que menos de 20% dos alunos conseguem scholarships que cubram metade dos custos, portanto, preparem-se!
Habilidades esportivas
Esse mesmo artigo informa que apenas 2,3% dos estudantes universitários recebe scholarship nessa categoria.
Ainda, conforme a divisão – nível de competição esportiva ao qual a faculdade está inscrita – o valor do aporte financeiro varia, podendo inclusive ser zero. Ou seja, a universidade pode te recrutar para competir pela instituição, sem dar nenhum tipo de apoio financeiro.
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A principal organização que regula e promove as atividades atléticas e esportivas para estudantes universitários nos Estados Unidos é a NCAA (National Collegiate Athletic Association). Preconiza o bem-estar e carreira longa aos estudantes atletas, com ênfase no desenvolvimento das habilidades esportivas sem negligenciar os estudos acadêmicos. Pode levar um atleta até as ligas profissionais.
Estudante atleta
Atualmente meu filho é estudante de marketing e jogador universitário de soccer (futebol), mas durante a High School já estava comprometido com a equipe de competição da escola. Na verdade, joga futebol desde os quatro anos e participava de competições a partir da categoria pré mirim.
Aqui, no ensino médio, os jogos oficiais são gravados, e com isso, além de material para treino, cada aluno pode ter o seu vídeo de “melhores momentos”. Nos jogos decisivos, há “olheiros” de universidades que recrutam jogadores.
Por ter se destacado nas competições escolares, meu filho foi indicado para receber uma consultoria para tornar-se um estudante atleta. Se quiser conhecer acesse o NCSA (Next College Student Athlete).
O caminho até a Universidade
Os consultores avaliaram as habilidades esportivas, histórico escolar e todos nós passamos por entrevistas. Tendo os vídeos de performance como jogador editados, a consultoria liberou o acesso ao banco de dados das universidades americanas. Nesse banco de dados, pôde trabalhar cruzamentos e filtros para identificar as universidades que tinha interesse em aplicar. Simultaneamente, recebeu treinamento de como se apresentar e montar um plano de carreira universitária.
Foi chamado pela universidade onde estuda para fazer testes físicos, de habilidades, participar de reuniões com jogadores veteranos, além de entrevistas com a diretoria atlética.
Em paralelo, cumpriu os requisitos acadêmicos para a aplicação: GPA, SAT, cartas de recomendação e redação.
Ganhou scholarship para iniciar os estudos universitários e jogar futebol!
Vida fácil?
Ser estudante atleta não é fácil. As práticas e treinos esportivos são para atletas de alta performance. Condições climáticas e calendário de trabalhos e provas acadêmicas não são levados em consideração.
Muitas vezes esses jovens precisam abdicar de festas, devem fazer escolhas mais saudáveis ou nutritivas na alimentação, além de lidar com alto nível de cobrança e estresse. Dores físicas os acompanham diariamente, e para sempre. Lesões podem ocorrer a qualquer momento.
Em sala de aula, enfrentam preconceito dos demais alunos ou até de professores. Por outro lado, podem esbarrar em professores-fãs que acompanham as competições e fazem “vista grossa” para possíveis falhas nos testes acadêmicos.
Os campeonatos são muitas vezes fora da cidade, e as viagens são constantes. Mesmo justificadas, as faltas às aulas podem prejudicar o aprendizado e exigir um esforço extra na área acadêmica.
Definitivamente não é para amadores.
Outros apoios financeiros
Todos os alunos devem escolher uma língua estrangeira (não o inglês, claro) para estudar na Universidade. Meu filho considerou uma língua nova e escolheu chinês!
Na primeira aula, recebeu uma solicitação para comparecer à Secretaria e para nossa surpresa havia ganho 500 dólares patrocinados por um grupo de empresários chineses, somente por ter escolhido estudar a língua.
Mérito acadêmico
Com minha filha vivenciamos as conquistas por mérito acadêmico. Devido ao histórico escolar e a média máxima alcançada em todas as disciplinas, ela conseguia renovar a scholarship que cobria cerca de um terço dos custos. Em contrapartida, ao final de cada semestre, tinha que redigir uma carta de agradecimento ao grupo ou patrocinador individual.
Também venceu um concurso anual promovido pela empresa do meu marido, voltado para apoiar filhos de funcionários que são estudantes de High School ou nível superior com scholarship por um ano. Deveria enviar um texto justificando a escolha da carreira profissional e os possíveis benefícios ou melhorias para a sociedade. Na época era estudante de Criminologia e ela arrasou no texto.
Para o próximo semestre, foi selecionada com bolsa integral acrescida de ajuda de custos para iniciar o doutorado.
Mundo universitário pós pandemia
Enquanto escrevia este texto, o mundo foi acometido por uma pandemia e não tenho como avaliar o impacto para as scholarships, portanto, deixo a minha sugestão para acompanhar o NSPA (National Scholarship Providers Association).